Afinal, o que é uma boa postura?

O BELO É UMA CONSTRUÇÃO CULTURAL

Quando pensamos em uma boa postura, frequentemente temos em mente a imagem de uma bailarina ou um atleta. Em uma busca rápida por imagens na internet, os resultados que aparecem geralmente são corpos super eretos, contidos, colunas rígidas, omoplatas contraídas. Por ser esta a ideia que temos de uma postura alinhada, aquilo que consideramos “belo”, é o que buscamos reproduzir em nossos corpos como o ideal de uma boa postura. Tente agora mesmo colocar o seu corpo nesta posição do que seria uma boa postura e sustente por alguns minutos.

E a pergunta é: qual a sensação dessa postura no seu corpo? É confortável? É possível mantê-la? Se a resposta é não, eu arriscaria dizer que é porque não é uma boa postura, é apenas considerada “bonita”! Se por um lado temos este ideal do que seria uma postura alinhada que é tão desconfortável quanto “bela”, por outro a maioria de nós conflita no próprio corpo e se auto-diagnostica com uma não muito boa – quando não péssima – postura. É necessário, então, questionar: afinal, o que é uma boa postura?

Uma boa postura tem a ver antes com eficiência do que com uma forma bonita. O significado de eficiência é: obter o melhor rendimento com o mínimo dispêndio de energia ou o menor desperdício. Um corpo alinhado é aquele que se move e se sustenta com o menor esforço possível, de forma equilibrada, sem sobrecarregar certas partes em detrimento de outras, logo, é um corpo que não se cansa tão rapidamente nem dói.

MAS O QUE EXATAMENTE É UM CORPO ALINHADO? OU AINDA, ALINHADO A QUÊ?

Aqueles corpos das imagens que vemos na busca pela internet parecem ser alinhados a um pilar imaginário que passa pelas costas, super ereto e rígido. Não, não é este alinhamento que falamos aqui. Falamos do alinhamento à gravidade. Se pensarmos que o nosso corpo tem partes de diferentes formatos e tamanhos – cabeça, peitoral, abdomen, bacia – para “empilharmos” esses volumes de uma maneira eficiente, não alinharemos estes volumes a uma linha reta em uma das extremidades, como as costas, mas sim a um espaço que passa pelo centro de cada um desses volumes. É como uma brincadeira de empilhar pedras: para que fiquem estáveis, as sobrepomos alinhando seus centros de gravidade, enquanto que a forma do conjunto se ajusta naturalmente.

Ou seja, uma boa postura não tem a ver com a “forma” e sim com eficiência e alinhamento com a gravidade. Eficiência e alinhamento com a gravidade podem ser sentidos no corpo: é uma sensação de fluidez, facilidade e conforto. Que pode (e usualmente vem!) acompanhada de um certo estranhamento: porque colocamos nosso corpo em posturas “desafiadoras” para si próprio por tantos anos, nossos referenciais estão descalibrados. Sentimos que estamos eretos quando jogamos o peso para as costas, sentimos que estamos inclinados para a frente quando estamos eretos e sentimos que temos os ombros caídos quando os temos relaxados. É uma verdadeira re-educação dos sentidos. Re-aprendermos a sentir o nosso corpo, restabelecermos novos referenciais de como sentimos nosso corpo em relação ao espaço, assim como mudar a imagem que temos do que é uma boa postura, é um caminho de auto-questionamento e descobertas para uma vida toda.

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